Casa Pia, o jogo mais importante da época para o Sporting

Confesso que não contava voltar ao tema Sporting / Rúben Amorim tão cedo, mas as circunstâncias assim o determinaram.

Então o que há de novo?
Não querendo dizer que uma derrota do SCP com um clube da Liga 3 é normal, porque de todo não o é, as novidades surgiram na comunicação. Na conferencia de imprensa do pós jogo, Rúben disse muito e sobretudo algumas coisas que são novidades absolutas.
Foi muito falada a já célebre frase “no fim a culpa não morrerá solteira” e também eu tecerei algumas considerações sobre ela. No entanto, a meu ver, houve outra frase que revelou muito mais do que a já citada e enigmática frase. Refiro-me a: “não haverá investimento no mercado de Janeiro. Iremos começar um novo ciclo.”.

Desde logo, uma coisa salta à vista: Rúben não tenciona sair agora, nem a meio desta época e quer ficar (pelo menos) para a próxima. Tudo depende da concepção de “ciclo”, sendo que mesmo os pontos de vista mais redutores dificilmente apontarão 1 ano ou 1 ano e meio suficientes para constituir um ciclo. Portanto será razoável que tenha intenção de permanecer no comando técnico do Sporting, durante, pelo menos, mais 2 temporadas já não contando com esta.
Independentemente de haver sócios e adeptos que o queiram manter e de haver sócios e adeptos que queiram que saia, parece-me razoável que, quando a saída se der, RA queira que seja pela porta grande. Mau grado o que está a acontecer nesta época, os sportinguistas não deverão nunca esquecer o que ele já deu e já fez pelo clube, e não me refiro apenas a títulos. Quando chegou, a estrutura (a famosa estrutura) estava em pantanas. Ninguém se entendia e havia algumas maçãs podres - para recuperar uma expressão antiga - dentro dela. Tudo isso Amorim limpou e reorganizou.

Por outro lado, não significarão as referidas afirmações uma desistência da época que de decorre?
À primeira vista, sim. FC Porto solidifica-se e Benfica está forte, pelo menos até ver. Só que, uma decisão destas, não só não me parece que fizesse sentido para alguém competitivo como é Rúben Amorim, como implicaria desde logo, a não entrada directa na Liga dos Campeões e até mesmo, se as coisas corressem demasiado mal, nem sequer conseguir assegurar o 3º lugar.
A explicação que me ocorre e que é razoavelmente aceitável, passa por RA tentar minimizar os danos nos próximos jogos (daí o título desta peça) e acreditar que durante a paragem do Mundial irá conseguir elevar o nível competitivo e de intensidade a alguns jogadores da formação, tornando-os mais-valias para a equipa principal atacar a segunda parte do campeonato.

É um risco? Obviamente que sim. Porque chegaram as coisas a este ponto? Esta é uma pergunta de muito mais difícil resposta e para chegar a uma conclusão aceitável será necessário considerar vários ângulos. Porém, antes disso, gostaria de elencar aqueles que a meu ver, são os males que padece o actual futebol do SCP:
- desde logo, salta à vista o absurdo número de golos sofridos, sobretudo se considerarmos que RA faz dessa segurança defensiva uma coisa primordial na sua estratégia;
- a incapacidade gritante de não conseguir criar ocasiões de golo quando enfrenta equipas com o bloco baixo e extremamente povoado, como foi o Varzim;
- o meio-campo sem músculo para absorver o primeiro impacto que os adversários lhe colocam, nem capacidade de romper linhas nos momentos de ataque: leia-se, sem Palhinha nem Matheus Nunes. Ugarte e Morita são bons jogadores, mas não têm as características descritas e isto reflete-se, quer nos golos sofridos, quer na organização atacante;
- o já famoso ataque com 3 jogadores móveis, deixou de funcionar. O que está a falhar? Na época passada, havia Pablo Sarabia, este ano não há. Por mais que Trincão seja um bom jogador, e é, está longe de ter a leitura e capacidade interpretativa de Sarabia, que foi sem dúvida um dos jogadores mais inteligentes que a nossa liga viu jogar nos últimos anos e a quem Rúben Amorim deve muito;
- na minha opinião, é inadmissível que uma equipa como a do Sporting Clube de Portugal, tenha praticamente deixado de fazer golos de bolas paradas. Já nem me refiro a pontapés de livres directos. Refiro-me ao sem número de pontapés de canto que o Sporting conquista! Ao contrário do ano em que foi campeão, em que um canto era meio golo (passe o exagero), agora é um desconsolo ver os mesmos movimentos de sempre, há muito assimilados pelas defesas contrárias. Pode ser dito que não tem havido Coates, mas isso joga até em desfavor da equipa técnica, pois o que seria de esperar, era que arranjassem outras soluções;  
- ter deixado de haver um patrão dentro de campo. Se Coates o é, é-o na sobretudo na parte emocional, nos ralhetes e/ou estimulos que dá, sobretudo aos jogadores mais novos. Só que, falta a outra parte. A parte táctica. Aqui volto novamente a Pablo Sarabia e à importância que também neste aspecto ele tinha no futebol verde e branco, muitas vezes sem abrir a boca. Por vezes, bastava-lhe o posicionamento para os seus colegas perceberem o caminho.

Os problemas estão expostos. Quanto às responsabilidades, se é certo que várias passam por Rúben Amorim, outras haverá que não são, de todo, dele.
Não é minha intenção fazer outro rol de erros de Amorim. Isso já foi feito noutros posts, quer por mim, quer pelo Foot. Basta consultarem.


Irei aqui explanar uma teoria minha. Tenho vindo a “juntar peças” e há uma ideia que se formou na minha cabeça e que ganha consistência a cada dia que passa.
Começando pelo fim: porque não falou Varandas depois do desastre com o Varzim? Mesmo que não fosse ele a falar, devido ao que dissera na véspera, porque não falou um outro elemento da direcção e ao não o fazer, deixar passar a ideia que RA está sozinho? Vários comentadores alinharam nesta interpretação. Será mesmo assim ou ninguém terá falado porque não o pode fazer sem revelar algo que ainda não pode ser revelado?

Há uns dias, assistimos à venda de parte da SAD do Braga aos donos do PSG e de vários outros clubes. No meu ponto de vista, este será o único caminho que possibilitará aos clubes de futebol portugueses continuarem a sobreviver e no caso dos chamados grandes, continuarem a serem minimamente competitivos na Europa. Voltarei a este assunto em breve, com mais dados, informação e tentando explicar porque motivo não há realmente nenhuma outra via.
E agora pergunto: não será isto que a direcção do Sporting está a fazer? Ou melhor, não estará a preparar o caminho para uma venda em posição de força? Força não desportiva. A “outra”.
Poderia fundamentar este meu palpite, mas tal como disse, irei escrever sobre o caminho das SAD e nessa altura, explicarei porque motivo, a acontecer, o Sporting estará neste momento na “pole position”.
Se o tempo vier a dar-me razão, Varandas estará de parabéns, mas caso as vendas dos Matheus Nunes desta vida tenham realmente sido para despesas correntes, julgo que deveria demitir-se.

Obrigado por lerem,
Ball

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