Sporting, para onde vais?


Algo ficou claro para mim: não poderia escrever este texto ontem, após o jogo com o Frankfurt. Precisava de tempo e de distanciamento pois não mais queria escrever alguma coisa circunstancial, antes sim, palavras e frases que dificilmente serão mudadas ou desmentidas.

Depois hesitei na forma em como começar o texto, mas lendo algumas opiniões que circulam pelas redes sociais, o caminho tornou-se claro.

Ponto 1 - A competência de Rúben Amorim
Li algures que Amorim só joga em 3-4-3 porque não sabe mais e não sabe como treinar outros sistemas.
Quem escreveu tal coisa, ou é mal intencionado ou ignorante. No nível mais primário de todos os cursos de treinadores de futebol, o primeiro sistema a ser é ensinado é o 4-3-3. Depois vem o 4-4-2 e só a seguir se chega aos verdadeiramente mais difíceis: o sistema que adoptou, o 3-4-3 ou a variante 3-5-2 e por fim, aquele que talvez seja mais complicado de afinar e levar a bom porto, o 4-4-2 losango.
Portanto, se RA instituiu um sistema no futebol do Sporting e o mantém, é porque quer e não porque não saiba fazer de outra maneira.

Ponto 2 - A preparação da época
Muito se escreveu e disse sobre este assunto. Numa coisa estou de acordo: os resultados da preparação da época foram (e continuam a ser) desastrosos.
Quanto à responsabilidade de tal acontecer, as opiniões dividem-se. Se uns a apontam a Amorim, outros culpam a direcção. Na minha opinião, as culpas dividem-se. Com isto não estou a tentar ser “suíço”. Fundamentarei esta opinião mais à frente.

Ponto 3 - O futuro imediato do Sporting, ou seja, o presente
Para um sportinguista é aflitivo pensar que no próximo sábado irá jogar com o Vitória SC sem Morita, sem Nuno Santos e sem, provavelmente, Ugarte ou com um Ugarte “coxo”. Isto, já para não falar em St Juste e outros, caso existam mazelas que não se tenham evidenciado logo após o jogo de ontem.
Exceptuando St Juste, como não existem alternativas sérias a estes jogadores, irá ser uma equipa recheada de miúdos que ainda estão a fazer a sua formação.
Mas ainda há piores notícias. A manter-se esta onda de lesões, é de temer que, pelo menos até Janeiro, mais venham a acontecer.

Ponto 4 - Em termos práticos, uma verdade indesmentível
A serem erros, não obstante todos estes erros, não obstante não haver um ponta de lança suplente e  não obstante a opção daquilo a que chamam “ataque móvel”, se o Sporting tivesse concretizado metade das ocasiões que criou, continuaria na Champions pois teria derrotado o Tottenham em Londres, manter-se-ia na Taça de Portugal e no campeonato, a classificação seria esta: em primeiro o Benfica com 33 pontos e em segundo lugar o Sporting com 30. Ou seja, apenas não atribuí a vitória ao Sporting no Dragão porque metade das oportunidades claras que criou, 4, apenas dariam 2 golos, insuficiente para empate ou vitória. Por outro lado, dei a vitória ao Benfica em Guimarães pelo mesmo critério: concretização de metade das oportunidades.

Confusos? Então vamos lá tentar deslindar esta teia que, aparentemente, está cheia de equívocos.

Há questões que me intrigaram desde que o SCP realizou certas operações financeiras, tais como acabar com as VMOCs e respectiva conversão em capital da SAD, retirar Álvaro Sobrinho e a sua Holdimo da SAD sportinguista bem como a Olivedesportos. Havia pressa? Pode dizer-se que sim, sobretudo no primeiro caso.
Até ao momento, ficou apenas por resolver a questão do Novo Banco. No entanto, a posição do Grupo Sporting dentro da SAD está agora reforçadíssima. Não tenho o valor concreto, mas é-me possível afiançar que será acima dos 80% e que o restante estará diluído por accionistas residuais, sem peso.
Então e para que serve tudo isto, perguntará o sócio/adepto menos familiarizado com o mundo financeiro. A meu ver, a resposta é simples: numa posição de força, Varandas prepara-se para vender a SAD do Sporting.
Não sei se o projecto passa por perder ou não a maioria nem se já existe parceiro de negócio. O que sei é que se o fizer e fizer bem feito, com garantias reais do novo parceiro, o Sporting poderá tomar a dianteira neste tipo de conversões em Portugal e com isso ganhar um enorme avanço aos seus concorrentes. De resto, desiludam-se os tradicionalistas pois todas as outras SADs: Benfica e Porto sobretudo (pois claro!), irão seguir o mesmo caminho. É inevitável. Explicarei toda esta engrenagem num próximo post.

Não sei se foi por incompetência ou devido a um inesperado obstáculo, Matheus Nunes teve de ser vendido. Lembram-se quando Rúben Amorim disse numa conferencia de imprensa que o dinheiro que o SCP (SAD) iria receber dessa transferência iria ser aplicado em despesas correntes? Acredito que esta informação lhe tenha sido dada e seja verdadeira. Houve que sacrificar a parte desportiva para poder levar a operação até ao fim. Neste momento é com esse dinheiro acrescido ao das receitas ordinárias que a SAD do Sporting estará a lidar e sendo assim, não me espantaria se a entrada de “gente nova” estivesse já agendada para o início de 2023. Pelo contrário, seria muito estranho acontecer qualquer outra coisa.

Voltemos então à altura da preparação desta época. Desde logo há perguntas para as quais não tenho respostas: em que altura foi Rúben Amorim informado do que iria acontecer? Não me refiro ao caso Matheus Nunes, mas sim de todas as mudanças que iriam acontecer. E... quando lhe foi dito qual a quantia que era suposto gastar em reforços?
E agora vou ser o mais directo que me é possível:
- se as cartas foram postas na mesa no tempo certo, a planificação da época foi um desastre.
- se, por outro lado, a informação lhe foi sendo dada a conta-gotas, mas ainda havia tempo para corrigir certas falhas, então a planificação foi “apenas” má.
- se aquelas informações lhe foram omitidas, acreditando a direcção que Amorim iria conseguir um novo milagre, pergunto o que é que este ainda está a fazer no Sporting, não fez a trouxa e zarpou.

”A culpa não irá morrer solteira” mas “a responsabilidade é minha”. Lembram-se?
Que tal traduzirmos isto por “não fui avisado” e “sou responsável porque mesmo assim aceitei”? Bate certo?
Sim, mas também pode bater certo de outras maneiras. Não me parece que a mera especulação nos leve a algum lado.

Seja como for, há culpas intrínsecas de Rúben Amorim. Mesmo que tenha acontecido a tal ocultação de informação essencial, de certeza que a dada altura o treinador terá percebido que algo se estava a passar. Nessa altura já não houve tempo para alterar alguns planos?

Custa-me a crer que, sabendo RA que o seu sistema pede dois médios centro com enorme poder e resistência física, tenha decidido atacar a época com Morita e Ugarte, sendo as alternativas, baixar Pedro Gonçalves, que é tudo menos o 8 que o sistema exige, ou integrar jovens impreparados. Se assim foi, o Rúben Amorim que julgámos conhecer, não é uma desilusão. Terá sido apenas uma ilusão. Custa-me a acreditar, mas...
No entanto, se aqui ainda coloco um “mas”, noutros aspectos não o posso fazer. Refiro-me sobretudo à rigidez, ou, se quisermos à tão falada teimosia. Por mais que pense no assunto, não tenho como aceitar que mantenha o esquema de 3 centrais mesmo em jogos com adversários nitidamente mais fracos e por outro lado, refiro-me também à questão do ponta de lança. Admito que seja imperdoável o que Slimani fez e que não houvesse outro caminho que não fosse a sua saída, e também admito que não tivesse havido dinheiro para um outro Bas Dost. Ainda admito que não se queira “queimar” um jovem da formação. Guarda-redes e pontas de lança são dos postos mais sensíveis e onde se podem liquidar boas carreiras devido a falsos começos. Admito tudo isto, mas, que diabo, porque não se comprou alguém experiente, até mesmo alguém em fim de carreira? Um Adan ponta de lança. Existem e alguns seriam capazes de ir para Lisboa por 2 ou 3 milhões de euros. Sendo esta verba o salário anual de alguns jogadores do actual plantel, não teria sido possível a aquisição com um pequeno esforço financeiro?
Ah, agora me lembro. Rúben Amorim declarou que queria apenas Paulinho. Foi, não foi?

Para terminar. Faltam poucos jogos para a paragem. Mesmo admitindo que o Sporting não perde mais nenhum, o que irá ser feito durante o tempo que durar o Mundial? Quer-me parecer que os treinos do Sporting serão uma espécie de pós-graduação apressada para alunos da formação. Sim, porque mesmo que se mudem de ideias, novas aquisições só em Janeiro.

Foot

P.S. Não posso deixar passar outros dois assuntos, e formular duas questões:
1 - St Juste foi devidamente avaliado pelo departamento médico do Sporting ou as repetidas lesões e incapacidade de jogar 90 minutos seguidos são apenas circunstanciais?
2 - Se entendo os problemas físicos de Ugarte e Morita devido ao que disse, e também retirando da questão as lesões traumáticas, interrogo-me o motivo de haver tantas lesões musculares esta época. O que, ou quem está a falhar?

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