E o Porto continua a ser do Pinto?

O princípio do fim de Pinto da Costa

É verdadeira a base do que levou Pinto da Costa a assumir a presidência do FC do Porto e que justificou alguns comportamentos, digamos que, algo duvidosos. Nas décadas que antecederam a sua tomada de posse, o futebol profissional em Portugal era dominado pelos clubes de Lisboa. O célebre BSB (Benfica, Sporting e Belenenses), punha e dispunha na organização e nas estruturas do futebol ou naquelas directamente ligadas a ele.

Pinto da Costa iniciou uma revolução. Infelizmente, tal como acontece em imensas revoluções, não o fez para distribuir ou democratizar o poder. Não. Fê-la com o intuito, com o propósito de levar o poder para o norte, beneficiando sobretudo o FCP. No fundo, se apelidarmos o sistema anterior de ditadura de Lisboa, passámos a ter a ditadura do Porto. Admito que o adjectivo seja forte, mas não estará muito afastado da realidade.
Não foi apenas isso que Pinto da Costa fez. Ele e os seus acólitos, iniciaram uma campanha que ainda hoje se mantém. As ideias fortes da comunicação então iniciada passavam por, desde logo, uma vitimização suprema do norte em relação ao sul. O FCP mantém esta “guerra” até hoje.
Se no início, esta estratégia poderia fazer algum sentido, depois do Porto começar a crescer, ganhar títulos e renome até mesmo a nível mundial, ela virou-se contra si próprio. O norte do país não é uma Catalunha que se possa dar ao luxo de se “auto-excluir” da nação. Não tem nem nunca terá as valências suficientes para isso. Aliás, mesmo o próprio FC Barcelona podia ter ido mais longe e não o fez. Perceberam o erro.
O FC Porto ganhou muitos adeptos na vigência de Pinto da Costa. Vitórias trazem adeptos. Mas, não fosse esse hostilizar constante de grande parte de Portugal, poderiam ter ganho muitos mais.
O
primeiro erro de Pinto da Costa foi estratégico.

Quando, por lei, os clubes de futebol profissional tiveram de constituir Sociedades Anónimas Desportivas (SADs) para poderem competir, muitos dos velhos hábitos tiveram de ser abandonados. Imensos clubes (para não dizer quase todos), tiveram de largar as suas contabilidades de vão-de-escada e organizarem-se de forma a que pudessem ser cotadas em bolsa, sempre sob a égide da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários).
Tal como os outros, o FCP foi obrigado a transformar-se. O segundo erro de Pinto da Costa passa por ter querido, ele próprio, continuar a pôr e dispor, ou se preferirmos, não ter sido suficientemente inteligente para delegar em quem verdadeiramente fosse competente e intransigente.


Pelo lado oposto, podemos dizer que escolher Fernando Gomes para administrador da SAD, foi, das duas, uma: ou uma forma de saldar antigos favores de quando Gomes era Presidente da Câmara do Porto, ou então, um enorme tiro nos pés de Pinto da Costa. Naquilo que é a sua vida pública, Fernando Gomes nunca se mostrou particularmente competente em nada. Porque haveria de o ser ao gerir as contas dum clube?
Os resultados estão à vista. Apesar das vendas astronómicas que o FCP realiza há mais de 20 anos, dos prémios monetários que provêm da Liga dos Campeões e da antecipação de receitas televisivas, o clube já caiu na alçada do “fair-play” financeiro da UEFA, saiu dele ao estar um ano sem poder inscrever jogadores e agora voltou a ser avisado que se encontra novamente a pisar a linha vermelha.
Resumindo: o segundo erro de Pinto da Costa foi financeiro.

Passando para o terceiro. Ainda nos dias atuais, o FCP continua a usar a estratégia salazarenta do “quem não é por nós é contra nós”.
Com os meios de comunicação existentes hoje em dia, este tipo de mensagem é muito mais fácil de expandir. Começando pelos órgãos oficiais do clube, passando pelos comentadores cartilheiros (sim, existem e não são muito diferentes daqueles usados por outro clube que será abordado proximamente) e terminando nos inúmeros utilizadores de redes sociais, que, sendo pagos para o fazer ou não (não tenho provas), mantêm os níveis de agressividade altíssimos!
Para que se perceba cabalmente aquilo a que me refiro, vou dar um exemplo. Nas segundas feiras, às 22 horas, a CMTV emite um programa chamado “Pé em Riste”. Nele, o representante do FCP é um digníssimo advogado do norte do país. Este personagem deverá receber informações, coisa normal, e não lhe chamaria propriamente de cartilheiro. Do que o acuso é de ser um extremista radical em tudo que passa pela defesa do FC Porto. Na minha opinião (é só uma opinião e é apenas minha) frequentemente cai no ridículo, quando defende, por exemplo, que determinado lance ocorreu duma maneira que as imagens desmentem categoricamente. Bom, isto já para nem referir que usa a estratégia do Pedro Guerra de antigamente (futuramente voltarei a este assunto), de interromper constantemente os outros, falando por cima deles.

A meu ver (ou seja, o que vou dizer é opinativo) deste tipo de estratégias comunicacionais poderão advir estas reações:
- os adeptos mais ferrenhos do FCP e que raramente pensam pela sua cabeça, gostam e esperam que continue;
- os moderados poderão, aqui ou ali, achar piada a algo, mas dum modo geral começam a cansar-se;
- aqueles que já se encontram mentalmente libertos destas estratégias, repudiam-nas e anseiam pelo seu fim.
Escusado será dizer que os adeptos dos outros clubes sentem nojo delas, uma vez que há muito que passaram o estado de as acharem risíveis.
Mas talvez, o pior de tudo seja o que escreverei agora: duvido que os miúdos, a nova geração “embarque” neste tipo de coisas. Ao contrário do FC do Porto, a sociedade vai evoluindo. Se antes as vitórias lhe trouxeram adeptos, agora, a anunciada cada vez maior raridade destas e o clima de ódio aos adversários, em vez de cativarem, afastam. Repelem.
O terceiro erro de Pinto da Costa e o que pode levar a grandes danos no FCP, é o erro comunicacional
.

Mesmo sendo certo que Pinto da Costa não ficará muitos mais anos à frente do clube, mais que não seja pela lei da vida, se o seu sucessor não mudar os procedimentos e as políticas, temo que daqui a duas ou três décadas o FCP volte a ser o médio clube regional que outrora foi.
Por outro lado, se for alguém que advogue a rotura, irá ter muito que “limpar” e terá de ser alguém extremamente resiliente para suportar as forças do passado.
Se eu fosse sócio ou adepto do clube, tentaria que a mudança acontecesse quanto antes. Isto significa que, no fundo, o inverter de marcha está na mão dos sócios, assim eles o queiram e não tenham receio de macacadas.

Cumprimentos,
Ball

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