O Amorim do Sporting

Amorim: convicção ou teimosia?

 

Notas prévias:
- este texto não irá ser escrito devido ao resultado de um único jogo de futebol.

- não era suposto ser este o segundo post deste espaço, mas a atualidade tornou-o imperativo.

Pois bem, falemos então novamente do Sporting e especialmente de Ruben Amorim. Não retiro uma virgula ao que escrevi sobre ele no texto anterior. Seria desonesto subtrair-lhe os enormes méritos e tudo aquilo que, de bom, tem vindo a fazer nesta sua passagem pelo clube. A grande questão aqui é que ninguém é perfeito.


Amorim implementou no SCP um modelo e sistema de jogo semelhante ao que já usava no Braga. Na primeira época, com jogadores de qualidade superior aos que dispôs no clube do Minho e com uma espantosa revelação chamada Pedro Gonçalves, foi possível conquistar aquilo em que poucos acreditariam: o título de campeão nacional. Uma nota que não posso deixar de fazer: Ruben Amorim beneficiou também da desastrosa campanha do Benfica e do péssimo arranque do FC Porto.

No segundo ano, Amorim manteve o desenho. Com a saída de Nuno Mendes para o PSG, os Leões conseguiram a contribuição de Sarabia, um jogador de classe raramente vista na nossa liga. O Benfica, continuou a dar tiros nos pés, mas Sérgio Conceição, que já “tinha acordado” na época anterior só que com atraso, desta vez estava alerta desde o início. O Porto ganhou com margem e apenas uma derrota.

Aguardei com alguma ansiedade o início da corrente época. No caso do Sporting, embora os jogos particulares que a antecederam me levassem a crer que iria ser mais do mesmo, continuei com esperança que acontecessem alterações. Não aconteceram.

Ainda ontem na conferencia de imprensa, Amorim voltou a afirmar que nada muda as suas convicções. Ele refere isto como se fosse um mérito que ninguém lhe pode tirar. Não mudar e manter-se fiel aos seus princípios pode realmente ser altamente meritório... desde que, esses princípios cumpram objetivos.

Poder-se-á dizer que são apenas 4 jornadas e que ainda é cedo para retirar conclusões. É verdade. Será, no entanto, justo argumentar-se que nos jogos em que o Sporting não somou pontos, incluindo também o jogo de Braga, tudo que correu mal se devem apenas a azar e/ou a falhas individuais? De todo, não.

Os treinadores das equipas adversárias, grandes ou pequenas, têm neste momento vantagem quando defrontam o Sporting: saberem o que vão encontrar. Depois montam as suas equipas em conformidade e se os valores individuais leoninos não desequilibrarem, passam a ter boas possibilidades de brilhar, leia-se, de somar pontos.

O que toda a gente sabe:
Este Sporting joga num esquema de 3 centrais. Os 2 centrais das pontas têm a incumbência de, na fase ofensiva e sempre que possível, subirem no terreno quase como médios interiores.
Os defesas laterais, no processo defensivo alinham com os centrais e no ofensivo, atuam como alas ou mesmo extremos.
O bloco do meio-campo é constituído por 2 jogadores. Ambos têm liberdade de subir, sempre que tal seja possível e aconselhável.
Na frente, 3 jogadores, todos com grande mobilidade. Mesmo quando Paulinho está presente o princípio de jogo é este, é o mesmo.
Em linhas gerais, esta é a estrutura de jogo do SCP e foi assim que Ruben Amorim levou o Sporting à conquista do campeonato há 2 anos. Se ganhou nessa altura, porque não ganha agora?

Desde logo porque os jogadores são diferentes. Ugarte e Morita não são Matheus Nunes e João Palhinha. Não falta um lateral esquerdo que suba bem (está lá o Nuno Santos) mas não está um que defenda bem, ou, quando está (Matheus Reis), não está quem suba tão bem quanto o Nuno Santos. Na altura, Nuno Mendes (um espantoso achado de Ruben Amorim), fazia tudo e bem.

Poderia continuar a dissecar o plantel jogador a jogador, mas não é essa a minha intenção. É muito mais simples demonstrar em duas frases como Sérgio Conceição desmontou o Sporting: bloqueou a subida dos laterais do leoninos e teve sempre superioridade numérica no meio-campo. Simples? Simples, embora não tão simples que todas as equipas tenham facilidade em fazê-lo. Existe a questão do valor individual e se atentarmos ao plantel do Sporting, este tem mais qualidade do que a esmagadora maioria dos seus concorrentes na liga.

Quero apenas dizer algo sobre a já muito estafada questão do ponta de lança. Tomando como exemplo o ano passado e o Manchester City, vimos esta equipa usar o sistema de 3 avançados móveis, sem referencia na área. Embora à justa, isto chegou para ser campeão em Inglaterra. Então porque carga de água Guardiola arrepiou caminho e foi buscar um “monstro” chamado Haaland? Como disse, chegou à justa na liga inglesa, mas não chegou para a Champions.

Tudo é uma questão de escala. Aqui, falando do Sporting, também chegaria, talvez não para voltar a ser campeão, mas quem sabe... para o segundo lugar? Talvez terceiro porque este ano parece haver um Benfica a sério. Quarto lugar? Em princípio sim, mas o Braga está a produzir muito bom futebol.

Então e que tal Ruben Amorim usar os restantes dias de mercado aberto e levar para o clube alguém que saiba fazer golos e que, por exemplo, possa aproveitar a capacidade de cruzamento dos excelentes extremos existentes no plantel?

Este é uma das questões essenciais. A outra, é a questão dos 3 centrais. Das duas, uma: ou retira alguém da frente e reforça o meio campo jogando um pouco à retranqueiro ou pára com o trio central, reforça o meio campo, conseguindo assim equilibrar a equipa.

Provavelmente haverão outros tipos de soluções, mas creio que esta última teria tudo para funcionar bem e nem seria necessário contratar centro-campistas porque eles existem no plantel e dois deles são da formação. Bastaria utilizá-los.

- Só os burros não mudam.
- Que não se confundam convicções com teimosia.

Obrigado por lerem,
Foot

Comentários

  1. Os 3 avançados resulta em equipas que praticam bom futebol. A verdade é que o Sporting não pratica um futebol atractivo desde a época 16/17.

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    1. Se por "bom futebol" o leitor entender futebol apelativo, dinâmico e que, no fundo, proporcione espetáculo, não posso deixar de estar de acordo. Ruben Amorim não faz grandes esforços para que as suas equipas pratiquem esse tipo de futebol. No entanto, como sabemos, nesta fascinante modalidade, há muitas maneiras de se ganhar. Embora eu seja admirador da parte estética, para mim, o problema reside nos casos em que a opção escolhida deixa de resultar e se insiste nela.

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